Por que precisamos de um arquiteto?
Esta é uma questão pouco refletida pela maioria dos
brasileiros, e que, mesmo depois de regulamentada a nossa profissão no país, e
isso já faz uns 80 anos, continuamos com o mesmo pensamento.
Porque valorizar um arquiteto em nosso país?
Se
eu já tenho uma “noção” do que quero e já fiz um “desenho” e
posso “perfeitamente” passar tudo para meu pedreiro. Ainda mais que estamos na era da tecnologia da informação e
fica muito fácil adquirir “todo conhecimento”.
Posso lhes afirmar que não é à toa que o Brasil
está praticamente uns cinquenta anos atrasados em relação aos países de
primeiro mundo. Este pensamento está enraizado no conceito de 90% de toda população.
Afirmo também que nenhum aplicativo e nenhuma revista trará nenhuma garantia e eficiência
e tão pouco nenhuma segurança na execução de uma obra. Servem apenas como fonte
de inspiração e informação.
Gostaria de citar algumas diferenças de
projetos de engenharia no brasil, onde do meu ponto de vista não visam o bem-estar
coletivo de nossa população.
O problema político se estende por todo território
onde todos os governantes apoiam a ideia de que o “menos é mais”. Menos beleza
e menos funcionalidade, características que imperam o velho mundo seguindo como
tradição, onde se tem beleza e funcionalidade existe custo alto e se faz desnecessário
para evitar atenção de qualquer público.
O trivial que é realizado a décadas
simbolicamente não atende as necessidades das pessoas, o custo é exorbitante
pois são sistemas construtivos arcaicos, e é de uma fácil maneira de capitar bilhões
das verbas liberadas pelo governo, que são de certa forma a proposta mais viável
para grandes empresas gentilmente atender a população, e de maneira muito “satisfatória”
trabalhar com muito dinheiro. Acredito se a forma mais prazerosa de se
administrar qualquer tipo de projeto.
Observando uma cooperativa no Brasil percebi
que um arquiteto não era bem visto diante sua diretoria, pois se tratava de
diversos tipos de obras e muitas manutenções.
O conceito de engenharia sempre será mais
atraente para qualquer administrador pois não se trata de obras visualmente
atrativas e assim não atrapalham “seus negócios”.
Da maneira como é imposto todos os tramites
aparentemente aos olhos da sociedade se trata como uma idônea empresa com fins
ajudar seus contribuintes e cooperados.
Mas percebi uma séria resistência em
transformar aquela máquina de desperdício de verbas, com custos altíssimos e desnecessários
em serviços e manutenções.
A primeira coisa que me chamou a atenção foi o
repudio de qualquer setor de planejamento onde as ordens apenas vinham dos
diretores, obras faraônicas eram mencionadas e acordadas diretamente com a empresa
de execução da obra e o projeto já executado por uma terceira pessoa que não fazia
parte do grupo de colaboradores. Enfim, quero mostrar o sistema político que
está enraizado em nosso pais, que tem como base senhores de engenho que tem
como hábitos escravizar e manipular seus “propósitos particulares”.
Assim como em uma simples cooperativa,
abrangemos está situação para o senário atual econômico e quantos bilhões de nossos
cofres públicos foram desviados. Gostaria de citar alguns exemplos de habitações
no Brasil para concluir este raciocínio, e vejamos algumas diferenças de planejamento
em diferentes “sistemas”. Ou seja, países.
Estás figuras abaixo representam algumas obras
de conjunto populares no Brasil, como podem ver não são nem um pouco atraentes,
apresentam em suas características atender as necessidades básicas de uma família,
tendo quartos, banheiro, cozinha, sala e uma pequena área de serviço. No que tratamos como sendo uma casa, atende
perfeitamente os quesitos necessários básicos. Não é?
Simoes Filho: Conj. Habit. Minha casa minha vida. Cohab Londrina
Beneficiando 3 mil moradores do município, foram
investidos cerca de R$ 100 milhões de reais para a construção do conjunto
habitacional Bela Vista que conta com 840 unidades. Ou seja cada imóvel custou
R$119.047,62. Casas e apartamentos em condomínios residenciais populares no
valor aproximadamente de R$119.990,00 a R$ 147.136,00 dependendo a região
no Brasil.
Gostaria de citar agora alguns projetos planejados e
concebidos com características diferentes dos praticados atualmente no Brasil,
redefinindo conceitos arcaicos aplicados em nossa sociedade.
Habitação Monterrey /
ELEMENTAL
Diversos estudos apontam características "desastrosas" no planejamento
de conjunto habitacionais nos pós ocupação.
“O princípio define todo o fim”, e realmente se estende por
todo nosso território desfavorecendo a toda nossa sociedade.
Pode-se
destacar que o programa, do ponto de vista econômico, conseguiu fomentar a
construção civil e mitigar a crise econômica, tendo em vista que houve um
verdadeiro boom imobiliário nesse período; do ponto de vista habitacional, as
metas, ainda que em número, foram atendidas: o volume de subsídios e de
unidades habitacionais produzidas era inédito, atingindo de fato um percentual
das camadas de baixa renda, atendendo, ainda que em parte, as reivindicações dos movimentos populares de moradia (CARDOSO, 2013). O PMCMV, embora seja um
programa recente, foi desenvolvido nos moldes dos programas habitacionais do
BNH: grandes empreendimentos localizados em áreas periféricas, monofuncionais,
com A qualidade de vida na habitação social verticalizada a partir da avaliação
pós-ocupação: o caso do conjunto habitacional Cidade Verde 15 baixa qualidade
arquitetônica e de materiais – o que pode ser percebido em todo o território
nacional, como por exemplo, o Loteamento Costa Esmeralda, localizado na cidade
de Araguaína - TO - ou seja, é uma nova política habitacional que não avança em
relação às velhas práticas.

Fonte:
Acervo da autora, 2016.
“O
direito à moradia encontra-se consagrado no Texto Constitucional, artigo 6º, caput. O referido
direito foi introduzido na Nossa Lei Maior por força do disposto na Emenda
Constitucional de nº 26, de 14 de fevereiro de 2000”.
A terra urbana e a habitação são
objetos de interesse generalizado, envolvendo agentes sociais com ou sem
capital, formal ou informalmente organizados. Estabelece-se uma tensão, ora
mais, ora menos intensa, porém permanente, em torno da terra urbana e da
habitação. Se isso não constitui a contradição básica, transforma-se, contudo,
em problema para uma enorme parcela da população. (CORRÊA, 2013, p. 47).
Os
interesses particulares estão sempre em primeiro lugar, não existe políticas
que favorecem a estudos práticos para uma melhoria da malha urbana e conceitos básicos
sociais para habitação, todas as áreas de terra urbana é previamente definida
na grande maioria por interesses políticos particulares pelos prefeitos e
investidores que coincidentemente apontam a uma especulação imobiliária que
favorecem as suas propriedades e ou a propriedades de parceiros financiadores,
onde através de contratos milionários favorecem a si próprios causando uma
enorme desorganização social, geralmente áreas periféricas que por sua vez tendem
a apresentar as mesmas características: ausência de infraestrutura,
precariedade de serviços públicos, longa distância dos centros urbanos e
clandestinidade generalizada, tanto em relação à aquisição dos imóveis quanto à
infraestrutura precária.
[…] a um processo político e
econômico que, no caso do Brasil, construiu uma das sociedades mais desiguais
do mundo, e que teve no planejamento urbano modernista/funcionalista,
importante instrumento de dominação ideológica: ele contribuiu para ocultar a cidade
real e para a formação de um mercado imobiliário restrito e especulativo.
(MARICATO, 2000, p. 124).
Estes
exemplos definem nossa sociedade e seus pensamentos, e imaginemos o que podemos
esperar de nós mesmos, a definição de um arquiteto não se resume em fazer um
desenho de uma planta, ou apenas lhe passar uma noção de quanto iremos gastar
com pedreiros. Primeiramente devemos nos concentrar onde queremos chegar, onde
iremos posicionar nossa sociedade em relação a outros países, onde nossa
cultura irá nos levar.
Todos
estes agravantes influenciam na formatação de nossa sociedade como um todo. Nosso
coletivo deve ser respeitado independentemente de nossas classes sociais.
Nossos trabalhadores precisam ter condições excelentes para que nosso trabalho
seja reconhecido no cenário global. Um planejamento não se resume apenas a
quantificar uma obra e sim, otimizar cada relação entre sociedade e espaço, em
cada uma de nossas atividades. A setorização do modernismo predefiniu a especulação
e todos os transtorno que isso causou em nossa sociedade.
A arquitetura compreende todas as
necessidades sociais, relaciona dentre diversos conjuntos e direciona a um benefício
coletivo. Ir além de um projeto, esse é o grande desafio e o trabalho de todos
arquitetos, entendemos arquitetura com a arte de abrigar as atividades humanas.
Levando em consideração aspectos e elementos subjetivos que norteiam o
movimento da sociedade, tanto no nível coletivo como no pessoal.
Para iniciar o
projeto, o arquiteto se depara com desafios semelhantes ao do escritor diante
da folha (ou tela) em branco. Todas as letras, formas, cores e texturas estão
ali adormecidas. A pena é quem vai de forma sutil, despertar o volume e as
formas. Mas para orientar essas escolhas, o arquiteto tem como premissa, o
terreno e a topografia, o briefing (programa de necessidades), as leis
municipais e federais (Plano Diretor, Código de Obras, Normas, etc.) e a
disponibilidade financeira de quem encomenda o projeto. Leis que as vezes
favorecem a uma enorme especulação imobiliária, setoriza os usos do solo
urbano, impedem um melhor desenvolvimento da malha urbana e desenvolvimento
social e valorização do espaço
Estes são apenas
parâmetros para nortear o processo e indicar que o uso e a ocupação adequados
para a área, na qual será implantada a obra.
Até aqui o desafio
pode ser resolvido por meio de técnicas e metodologias específicas. Porém, para
ir além do projeto, o arquiteto tem que levar em consideração a necessidade e o
sonho. A proposta escolhida deve equilibrar esses dois polos e aproximar a obra
do sonho, contemplando todas as necessidades. Pensemos: o que é uma casa? Se
acharmos que ela é apenas o edifício destinado a moradia, qualquer pessoa que
domine a técnica, pode “desenhá-la”. Mas se aprofundarmos o conceito e
entendermos que a casa é algo além de moradia, vamos descobrir que ela tem
características subjetivas e específicas para cada pessoa ou família. Ela é o
lugar para onde se vai depois de um dia de trabalho, quando o cansaço vem. Por
isso tem que promover a alegria de voltar para o lar. É o espaço de repouso e
descaso.
Nos horários de
ócio, a casa deve ser o ambiente de refrigério, encontro de amigos, familiar e
lazer, enfim, ambiente propício para recarregar as baterias e encarar nova
batalha no dia seguinte.
Ir além do desenho (do projeto), além de ser desafio é de grande
responsabilidade. Pois a maneira de viver de cada família com as manias,
hábitos, costumes, sonhos e, também, as economias estão postas diante do
projetista de maneira invisível. Esses elementos são abstratos. O arquiteto se
torna sonhador que sonha junto com o cliente e cria a ferramenta com a qual ele
vai transformar o projeto em realidade. Deve existir relação de confiança e
intimidade entre o arquiteto e o cliente para que tudo seja bem interpretado e,
ao final, a casa seja a “cara” do dono.
Na prática não é bem assim. A arquitetura ainda é vista com
desconfiança por grande parte da sociedade. Existem pessoas que acham que o
projeto é artigo de luxo. Não sabem que projetar é pensar antes. É colocar na
linha do tempo cada etapa e o quanto custará ao final. Isso possibilita ao
cliente a programação físico financeira.
Além da falta de conhecimento por parte da sociedade, os
profissionais sérios, sofrem concorrências desleais de sites e revistas que
oferecem projetos prontos aos desavisados que os adquirem por preços
aparentemente módicos e criam com isso a banalização do exercício profissional,
o que contraria os princípios éticos e legais. Existem também os que procuram
desenhistas, técnicos de nível médio ou estudantes que não tem consciência do
papel técnico e praticam o exercício ilegal da profissão. A grande maioria não
é penalizada pelos conselhos, pois escondem-se abaixo da caneta dos
“caneteiros”, que são profissionais que assinam os projetos, respaldando
legalmente os infratores. É como se o cirurgião se responsabilizasse por
cirurgias realizada pelo técnico de enfermagem.
Ao “comprar” o projeto pronto o cliente está desperdiçando a
oportunidade de personalizar o futuro lar. De fazer algo dentro da realidade
sócio financeira, compatível com o terreno, integração ao entorno, dentro da
legislação municipal e com ambientes bem iluminados e ventilados naturalmente,
situação que contribui para a economia de energia, proporciona satisfação,
prazer, sociabilidade e saúde.
Por isso a arquitetura deve ir além do projeto. Ela não é só
escolha de formas bonitas, cores da moda, texturas interessantes. Ela é a
materialização do sonho que revela o tempo e o espaço dos que as produzem. Ela
também tem a obrigação de ser confortável, agradável e BELA.
O arquiteto é o profissional que teve no mínimo cinco anos de
estudo, aprendendo a projetar. Com estudos multidisciplinares que vão de
matemática; cálculo; sociologia; economia; direito urbano; planejamento urbano
e conforto ambiental; estudos que passeiam por vários temas que vão da
residência, passam pelo edifício comercial, industrial, hoteleiro,
hospitalares, etc. Na escala urbana se estuda a residência, a quadra, o bairro
e a cidade.
A escola procura desenvolver a consciência crítica e criativa no
futuro profissional. Àqueles que praticam indevidamente o ofício de projetar,
não passou por tudo o que foi dito até aqui. É inconfundível e incomparável o
projeto do legítimo arquiteto. Até os leigos sabem diferenciar o projeto feito
por arquiteto dos feitos por outro “profissional”.
Os que procuram outros profissionais, o fazem equivocadamente.
Economizam no valor do projeto, porém, gastam mais na construção. E na hora de
vender o imóvel, aquela “economia”, não agrega valor. Por isso e muito mais que
o trabalho do arquiteto deve e tem que ser valorizado. Foram muitas noites sem
dormir, fazendo os trabalhos da faculdade, os livros comprados para adquirir
mais conhecimento, as viagens e toda a dedicação à profissão devem ser postos
na balança.
A formação do arquiteto e urbanista legítimo é complexa. Não é à
toa que se trabalha com arquitetura. Se a casa é bonita, o bairro é bonito, a
cidade é bonita, é porque existe o trabalho do arquiteto e urbanista. Por isso
a sociedade deve ser informada da relevância do trabalho desse profissional
para também valorizá-lo. Porque somente o arquiteto de verdade vai além do
projeto.
Os desafios do arquiteto - Jorge Romano Netto
Aprenda a se valorizar, valorize seu espaço e
traga benefícios a seu entorno, entenda que você é a base para toda nossa
sociedade. Só depende de você.
Ricardo
Dorascenzi